Nem tão doce...

Nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos - sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples que estes.

terça-feira, abril 05, 2011

Femme Fatale



 “Hoje é o dia, eu quase posso tocar o silencio... ♫”
Okay, não era bem isso que eu ia escrever, certo. Enfim, hoje é um dia como qualquer outro. Ou pelo menos começou assim.
Ela estava em casa, terminando o café e lendo o jornal quando ouviu a campainha. Fato que não a agradou em nada, uma vez que aquele deveria ser seu dia de folga e não estava esperando visitas.
De fato, nunca recebia visitas, apenas trabalho e mais trabalho.
Sua vida sempre fora o seu emprego, e ela gosta dele. Ele a faz sentir-se viva. Quantas pessoas podem falar assim de seus trabalhos?
Pois bem. Certo que não é algo muito convencional, mas cada um usa seus talentos como pode, não é?
Voltando à narrativa...
Levantou-se, muito a contragosto e fui atender a maldita porta, pronta para soltar os cachorros em quem quer que esteja ali do outro lado.
Abriu a porta abruptamente, e para a sua surpresa, ninguém do lado de fora. O que era um fato um tanto curioso. Teriam as crianças do vizinho descoberto sobre a  folga e decidido lhe aporrinhar o dia todo, hoje?
Bufou e dou de ombros, mas quando ia bater a porta, seus olhos detectam a presença de um grande envelope amarelo sobre o capacho com a simpática inscrição: “Bem vindos”.
À seu ponto de vista, aquilo era uma inutilidade enorme, sendo que nunca recebia visitas, como já foi citado anteriormente.
Recolhera o objeto deixado e olhou mais uma vez em volta, antes de entrar com o envelope grande, em um amarelo irritantemente vivido, sob o braço. Sentou-se novamente para terminar seu café. Sorvia lentamente o liquido enquanto encarava o maldito, até que decidira abri-lo.
Maldita curiosidade aquela. Sabia que era trabalho, e provavelmente urgente para me ser entregue assim. Descansara a xícara vazia e depositou toda a atenção naquele papel amarelado. Com cuidado e valendo-se de uma pequena adaga cortou a parte superior e despejou o conteúdo no balcão. Continha uma foto e um bilhete escrito a caneta.
A primeira coisa a ser observada foram os números no bilhete rabiscado. Dependendo destes, decidiria se veria ou não a foto. Bem, eram oito dígitos. Muita coisa vale a pena por oito dígitos. Virou a foto e observei a face na mesma. “Mas que merda, hein?!” Foi o que pensou ao ver o rosto envelhecido de uma antiga colega de escola.
Normalmente ela não se importaria com esse detalhe, sabe? Sempre fora meio reclusa. Tinha amigos que davam para contar nos dedos da mão esquerda, e a garota da foto era uma delas.
Sentou novamente, encarando a foto e os números. Certo era que não a via há anos. Quem sabe o tipo de pessoa que devia ter se tornado? Enfim, se  enviaram a foto, motivo tem. 
Levou a foto para o banheiro e a queimou sobre a pia. Lavou o rosto e se olhou no espelho. Parece que a folga acabou.
Arrumou o que tinha que arrumar e saíu. Um telefonema e ela tinha o endereço. Foi simples, fácil e limpo. Chegou lá em alguns instantes. A casa estava vazia e silenciosa, mas não foi difícil entrar. Subir ao segundo andar e encontra-la ainda dormindo foi um prêmio. Não teve que responder perguntas, e nem testemunhar o desespero. Foi limpo. Foi rápido. Ficou aliviada por ter terminado tão rápido. Agora podia ir para a casa, e aproveitar sua folga ou pelo menos dela, o final.

Um comentário:

  1. é tão bom sentir que nós temos poder, infelizmente nem sempre é o correto a fazer.

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